sábado, 12 de maio de 2012

PREGAÇÃO: GUIA PARA INICIANTES


PREGAÇÃO: GUIA PARA INICIANTES

1. O que é a pregação?

Talvez seja mais fácil dizer o que a pregação não é do que o que ela é. Não é um compartilhar de alguns pensamentos de ouro sobre um texto bíblico. Pregar não é um estudo bíblico. Não é uma palestra. Pregação não é um show de comédia. O que é então? De uma maneira bem simples, apregação é a proclamação da palavra de Deus por homens para os outros seres humanos. Portanto, a pregação tem quatro componentes principais: O Homem devidamente dotado e chamado. A Mensagem, a palavra de Deus. O Meio, a proclamação falada. A Motivação: para beneficiar outros seres humanos (Colossenses1:28). Mas talvez a minha definição seja um pouco prosaica. De acordo com D. Martyn Lloyd-Jones, pregação é a “teologia em chamas”.


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2. O kit de iniciante de um pregador

1) Oração

Um homem não deve aventurar-se a falar por Deus a menos que primeiro tenha falado com Deus (Atos 6:4).

2) Uma boa tradução da Bíblia

A pregação envolve a explicação precisa das Escrituras. Uma paráfrase como a NTLH ou A Mensagem não irão ajudar. Use uma tradução adequada e confiável, tais como: ACF, ARA, ARC, Almeida Século XXI, NVI, KJA. Os sites BibliaOnline.com.br e BibliaOnline.net.br são totalmente pesquisáveis e dão acesso a uma ampla gama de traduções.

3) Comentários Bíblicos

C. H. Spurgeon sobre a utilização de comentários,
“Parece estranho, que certos homens, que falam muito do que o Espírito Santo lhes revela, pensem tão pouco sobre o que ele revelou para outros… Foi a moda nos últimos anos falar contra o uso de comentários… Uma respeitável familiarização com as opiniões dos gigantes do passado poderia ter poupado muito um pensador errático de interpretações selvagens e inferências ultrajantes.”
Velhos mestres como João Calvino e Matthew Henry estão disponíveis gratuitamente on-line [em inglês - em português estão disponíveis para compra na Editora Fiel e na CPAD, respectivamente]. Volumes da série Cultura Bíblia – Introdução e Comentário (Edições Vida Nova – Antigo Testamento e Novo Testamento) são geralmente dignos de consulta. [Outro bom comentário seria o Comentário Bíblico Vida Nova. Online você pode encontrar alguns comentários pontuais no monergismo.net.br]
O pacote ‘Logos Bible Software‘ vem completo com uma série de comentários e tem um recurso útil de tradução da Bíblia interlinear. [Em português algo perto disto seria a Biblioteca Digital da Bíblia, disponível para o Logos também.]

4) Teologia Bíblica

A teologia bíblica é o estudo da revelação progressiva, incutindo uma consciência do enredo básico da Bíblia, da criação à nova criação. Ela também tenta traçar o desenvolvimento e principais temas bíblicos, como a vinda da “semente” prometida, aliança, herança, a pessoa e a obra do Messias, etc. Esta disciplina irá ajudar o pregador a entender onde seu texto está no fluxo histórico-redentor da revelação bíblica.

3. Do texto ao sermão

1) Decidir qual é o seu texto

Ore por orientação do Senhor. Reflita sobre o impulso básico de seu sermão. Será evangelístico, que visa apresentar o evangelho aos não convertidos, ou uma mensagem que é primariamente para o povo de Deus? O que a congregação precisa ouvir? Encorajamento, desafio ou admoestação?
Em sua primeira pregação, se atenha às passagens que você conhece muito bem, em vez de tentar encarar alguma coisa em Ezequiel ou Apocalipse. Aprenda a andar antes de correr.

2) Discernir o significado do seu texto

 Faça perguntas ao seu texto:
  1. Qual é seu contexto na passagem?
  2. Qual é a forma literária do texto? É poesia, uma canção, prosa histórica, uma parábola, um Evangelho ou uma epístola?
  3. Qual é o lugar do texto no enredo da Bíblia?
  4. Qual doutrina está sendo ensinada pelo texto? O que ele diz sobre Deus, a salvação, a vida cristã ou das últimas coisas? Como o que está sendo ensinado no texto refere-se ao ensino da Bíblia como um todo?
  5. Qual é a aplicação prática do seu texto?
  6. Como cada sermão deve ter um ponto principal, qual é o tema principal da passagem?
3) Desenvolver uma clara estrutura de sermão.

Isso fará com que sua mensagem seja memorável e fácil de seguir. A ordem dos pontos do sermão deve ser lógica e progressiva, dando à mensagem uma sensação de impulso. Experimente e siga as divisões naturais do seu texto. Por exemplo, Gênesis 22 pode ser dividido como se segue:
I. O Senhor prova Abraão (22:1-6)
II. O Senhor provê para Abraão (22:7-14)
III. O Senhor promete bênçãos para Abraão (22:15-24)
Aliteração é boa quando acontece naturalmente, mas não é absolutamente necessária.

4) Use ilustrações úteis

Ilustrações ajudam as pessoas a entender o que está sendo dito. Elas devem iluminar a verdade ao invés de chamar a atenção para si mesmas. Narrativas bíblicas são praticamente autoilustrativas. Abraão é o exemplo-chave de um homem cuja fé está sendo provada em Gênesis 22. Mas incluir outros casos de pessoas cuja fé foi provada e aprovada, vai ajudar a chegar no ponto em questão.

5) Pregar a Cristo a partir de todas as Escrituras

Isto é especialmente importante quando se estiver pregando a partir do Antigo Testamento. Veja a prática do próprio Jesus (Lucas 24:44-49). Gênesis 22 é acerca de Isaque, a prometida “semente” sacrificada e ressurreta. (Gênesis 3:15, 21:12, Gálatas 3:16, Hebreus 11:17-19). Observe a maneira como Paulo ecoa Gênesis 22:16 em Romanos 8:32, que é sobre o Senhor, que provê ao seu povo, outro tema em Gênesis 22.

6) Aplicar profundamente a sua mensagem

O propósito da pregação é capacitar o povo de Deus a desempenhar os seus papéis no teatro da redenção. A aplicação deve ser enraizada no Evangelho e determinada pelo texto no qual você está pregando. Se o texto é uma promessa, a aplicação é: “creia”; se um mandamento: “obedeça-o”; se uma admoestação: “acate-a”. Aplique a mensagem de forma adequada a diferentes tipos de pessoas. Inste com os incrédulos para que se arrependam e creiam no evangelho. Conforte e encoraje os abatidos. Desafie os espiritualmente preguiçosos. Explique os caminhos de Deus para o desorientado. Aplique a mensagem por todo o caminho, e não apenas no final.

4. Do sermão à pregação

O sermão não é um trabalho de literatura. Não é projetado para ser lido palavra por palavra, mas para possibilitar que você analise e desenvolva sua mensagem. Um sermão escrito irá formar a base da pregação, mas a pregação é mais do que um sermão falado em voz alta. O sermão irá fornecer uma estrutura básica, mas o pregador não deve se limitar a ele. Deve haver um elemento de imprevisibilidade na pregação. O pregador precisará aprender a improvisar dentro da estrutura básica e o fluxo do sermão enquanto interage com a congregação.
Se estiver usando anotações, não enterre sua cabeça nelas do início ao fim. Mantenha contato visual com as pessoas para que possa realmente se comunicar com elas. Se não estiver usando anotações, não seja tentado a economizar a preparação e deixar tudo para o impulso do momento. Pense claramente. Ore fervorosamente. Deixe-se ir.

5. O que evitar

Não experimente e embale coisa demais. Você não tem que despejar todos os resultados de sua preparação nas pessoas. Seja seletivo. Se atenha ao ponto principal.
Não pregue acima daquilo que as pessoas conseguem entender. Lembre-se de que seu trabalho é tornar simples o que é complicado, não o contrário. Explique palavras grandes e conceitos pouco familiares.
Não pregue por muito tempo. Diga o suficiente. É o que se espera.

6. Preparando-nos para pregar

Nossa tarefa é possibilitar que o povo de Deus entenda e sinta a verdade das Escrituras para que possa praticá-la. Para este fim o pregador deve orar, pensar e sentir-se dentro do texto, para que a pregação se torne um vivo desempenho da mensagem. Isso não significa que o pregador “finge” seu sermão. Mas nós devemos refletivamente aplicar o sermão a nós mesmos antes de pregá-lo a outros (1Tim 4:16). A pregação deveria ser uma viva representação do teatro da redenção, onde a Palavra de Deus cristocêntrica é proclamada a seu povo no poder do Espírito.

7. O Espírito Santo e a pregação

A Bíblia enfatiza a importância do trabalho do Espírito em relação à pregação. Paulo testifica: “nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção…” (1 Tessalonicenses 1:5, também 1 Coríntios 2:1-5).
Capacitado pelo Espírito no Pentecoste, Pedro pregou e 3.000 pessoas foram convertidas, batizadas e adicionadas à igreja. O Pentecoste inaugurou uma nova era do Espírito. Como tal, ele foi um evento irreproduzível. Mas ainda havia a necessidade de mais suplementos para capacitar a pregação do evangelho (veja Atos 4:8, 31).
O Espírito Santo dá aos pregadores a clareza de pensamento, a intrepidez oral e uma autorizada enviada dos céus. A igreja de Jerusalém orou: “Agora, Senhor… concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra” (Atos 4:29). Suas orações foram atendidas — “todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (Atos 4:31).
A presença da capacitação do Espírito permite que os pregadores proclamem o Senhor Jesus com intrepidez, liberdade e efetividade que transforma vidas. Sua presença torna a pregação um evento onde o Deus do evangelho é encontrado em toda a plenitude de sua graça e poder. Isso é o que torna a pregação “teologia pegando fogo”. Tanto os pregadores quanto o povo devem buscar a Deus para isso e não se contentarem com nada menos.



* De uma palestra dada em uma Oficina de Pregadores, na Zion Baptist Church, Trowbridge.

Por Guy Davies. exiledpreacher.blogspot.com
Tradução e Adaptação: voltemosaoevangelho.com
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que adicione as informações supracitadas, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

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